Grande Cerco de Mazagão

Grande Cerco de Mazagão
Guerras Luso-Marroquinas

Defesa de Mazagão, Alfredo Roque Gameiro in História de Portugal, Popular e Ilustrada
Data 18 Fevereiro 1562 – 7 Maio 1562
Local El-Jadida, Marrocos
Desfecho Vitória portuguesa
Beligerantes
Império Português Marrocos Marrocos
Comandantes
Rui de Sousa de Carvalho
Álvaro de Carvalho
Marrocos Abu Abdallah Mohammed II Saadi
Forças
Cerca de 800[1]-3000 soldados[1] 85,000[2]-120,000 homens
24 canhões
Baixas
117 mortos
270 feridos[3]
Desconhecido
Campanhas coloniais portuguesas
Conflitos prolongados mostrados em negrito
Data  Região 
1415 Ceuta
1437 Marrocos
1458 Marrocos
1468 Marrocos
1471 Marrocos
1478 Guiné
1487 Marrocos
1490 Marrocos
1501–02 Índia
1502 Índia
1503 Índia
1504 Índia
1506 Índia
1507 África Oriental
1507 Hormuz
1508 Índia
1509 Índia
1510 Índia
1511 Malaca
1514 Marrocos
1515 Marrocos
1517 India
1521 China
1522 China
1523 Arábia
1526 Índia
1531 Índia
1538 Índia
1541 Mar Vermelho
1541 Mar Vermelho
1542 África Oriental
1546 Índia
1548 Arábia
1551 Arábia
1552–54 Arábia
1553 Golfo Pérsico
1558 Brasil
1559 Índia
1561 Japão
1562 Marrocos
1567 Brasil
1568 Malaca
1569 Achém
1570–75 Índia
1580–83 Oceano Atlântico
1580–89 Oceano Índico
1581 Damão
1587 Jor
1601 Java
1606 Malaca
1606 (ago) Malaca
1612 Índia
1614 Brasil
1619 Ceilão
1622 China
1622 Angola
Data  Região 
1624 Brasil
1625 Pérsia
1625 Brasil
1625 Costa do Ouro
1629 Malaca
1630 Brasil
1631 Brasil
1638-39 Índia
1671 Angola
1637 Costa do Ouro
1638 Índia
1638 Brasil
1639 Índia
1640 Brasil
1640–41 Malaca
1645 Brasil
1647 Angola
1648 Brasil
1648 Angola
1649 Brasil
1652–54 Brasil
1654 (mar) Ceilão
1654 (mai) Ceilão
1665 Angola
1670 (jun) Angola
1670 (out) Angola
1696–98 Mombaça
1710 Brasil
1711 Brasil
1729-32 Índia
1735–37 Banda Oriental
1752 Índia
1756 América do Sul
1761–63 América do Sul
1762–63 Sacramento
1768-69 Angola
1774-78 Angola
1776–77 América do Sul
1809 Guiana Francesa
1816–20 Banda Oriental
1821–23 Brasil
1846 China
1849 China
1850-62 Angola
1855-74 Angola
1890–1904 Angola
1907 Angola
1914–15 Angola
1917–18 Moçambique
1954 Índia
1961 Índia
1961–74 África
• 1961–74 Angola
• 1963–74 Guiné-Bissau
• 1964–74 Moçambique


O Cerco de Mazagão de 1562, também conhecido como o Grande Cerco de Mazagão foi um confronto armado ocorrido na actual cidade de El Jadida, então conhecida como Mazagão, entre as forças portuguesas e as da dinastia Sádida de Marrocos, que havia recentemente unificado Marrocos.

Os marroquinos não conseguiram romper as defesas da cidade e, diante dos contínuos reforços portugueses e da defesa animada da guarnição, viram-se obrigados a retirarem-se após um cerco de dois meses e meio. Foi um dos mais árduos cercos resistidos pelos portugueses em Mazagão, de um total de nove.[4]

Contexto

Os portugueses construíram uma cidadela no porto acessível de Mazagão no verão de 1514.[5] Esta cidadela era um edifício rectangular com quatro torres, uma das quais era a antiga torre que já existia no local.[5] Os arquitectos eram dois irmãos, Diogo e Francisco de Arruda.[5] Nas décadas seguintes, os Sádidas subiram ao poder e começaram a expulsar os portugueses das suas fortalezas costeiras, sendo o evento mais significativo a conquista da fortaleza de Santa Cruz (actual Agadir) em 1541. Em resposta, o rei D. João III mandou evacuar as posições portuguesas em Azamor e Safim e concentrou-se em construir uma posição mais defensável em Mazagão.[5] Como resultado, a fortificação portuguesa foi expandida para a maior fortaleza murada que vemos hoje, em 1541.[5] O forte tinha 69 canhoneiras e um amplo fosso provido de eclusas que o mantinham cheio de água do mar durante a maré baixa.[6]

Marrocos foi unificado por Maomé Xeque em 1549. O seu filho, Abdallah al-Ghalib, sucedeu-o em 1557 e, em 1559 começou a planear a conquista da bem-fortificada cidade portuguesa de Mazagão.[3] Os preparativos continuaram ao longo dos anos de 1560 e 1561.

O governador português da fortaleza Álvaro de Carvalho encontrava-se então em Lisboa.[7] Suspeitando de um ataque iminente, o seu lugar-tenente Rui de Sousa de Carvalho despachou um espião para Fez e este confirmou os rumores sobre os preparativos do sultão. O Sousa de Carvalho despachou então um navio com um pedido de socorro para Portugal, então governado pela regente Dona Catarina, dando a saber sobre o cerco iminente e que a guarnição da cidade e os residentes não seriam capazes de resistir sem ajuda.[3]

Cerco

O primeiro dos comandantes dos sultões a chegar com um contingente de tropas foi o alcaide de Azamor, que assentou o seu arraial a meia légua de Mazagão a 18 de fevereiro de 1562 e entrou em contacto com o Sousa de Carvalho por via de um alfaqueque (negociador de cativos) que o sultão chegaria em breve sobre fortaleza; Carvalho enviou uma resposta na qual lhe pedia "que viesse muito em boa hora que aqui o estava esperando nesta fortaleza com muitos marmelos e peros e romãs e outras frutas".

Em Portugal, a rainha regente Dona Catarina ponderava abandonar Mazagão. A chegada da notícia do cerco de Mazagão provocou uma onda de sentimento patriótico em Portugal e antes que Dona Catarina tivesse tomado qualquer decisão quanto à fortaleza, um grande número de voluntários, entre fidalgos, plebeus e clérigos armaram-se e zarparam voluntariamente em auxílio da cidade sitiada. Algumas câmaras municipais da região do Algarve, como Tavira, pagaram a passagem para Marrocos, ao passo que os cidadãos forneciam navios seus para o efeito. 100 voluntários partiram de Lagos e os pescadores de Lagos, Tavira e Faro forneceram mais 40 voluntários.[8]

Planta da fortaleza de Mazagão.

O príncipe-herdeiro de Marrocos, Abu Abdallah Mohammed II Saadi ("Muley Hamet" em português) chegou a 4 de março com o grosso do seu exército, que segundo estimativas portuguesas ultrapassava os 100.000 homens.[9]

Os marroquinos começaram por cavar uma trincheira na direção da fortaleza, e quando estavam a 400 passos de distância ergueram um baluarte de terra de onde poderiam bombardear o baluarte do Santo Espírito.[10] Uma trincheira também foi cavada em torno da fortaleza do lado da terra.

A 24 de março, o capitão Álvaro de Carvalho chegou a Mazagan com uma força de socorro que incluía 600 fidalgos bem equipados. Uma força de socorro de 1565 voluntários financiou com suas próprias despesas a viagem para Mazagão, onde chegaram no dia 26 após seis dias de viagem de Lisboa, trazendo abundantes víveres e abastecimentos.[11]

O trabalho continuou todas as noites: alguns homens vigiavam as muralhas devido ao perigo de escaladas, outros prestavam atenção ao ruído debaixo do solo, que indicaria a aproximação de uma mina marroquina; outros cuidavam dos doentes e feridos, preparavam os víveres ou consertavam os buracos abertos pela artilharia marroquina.[12] Não obstante o stress e o perigo, a moral manteve-se em alta.[12]

2.000 homens enviados pela regente desembarcaram na fortaleza pouco antes do primeiro assalto dos muçulmanos a 24 de abril.[13]

Vista da Porta do Mar de Mazagão.

Os reforços para a cidade incluíram o célebre engenheiro português Isidoro de Almeida, que supervisionou as operações de contra-minagem, ao lado do engenheiro Francisco da Silva.[6]

A 30 de abril, um reforço de 250 soldados desembarcou pouco antes de os marroquinos lançarem um segundo ataque em massa, que também foi rechaçado.[13]

Os combates continaram até 1 de maio. Não vendo meios de vencer a resistência portuguesa, a 5 de maio o príncipe-herdeiro bateu em retirada com o seu exército, desmoralizado e falho de munições.[12]

Consequências

Agostinho Gavy de Mendonça, um morador de Mazagão que mais tarde escreveu uma crónica do cerco, contabilizou 3.000 pessoas no forte no final do cerco.[4] Relatou também que a cisterna continha 5.500 toneladas de água no início do cerco, e no final havia perdido apenas mil toneladas de água, apesar da água ter sido sempre distribuída liberalmente.[4]

A cisterna portuguesa de Mazagão.

Ao todo, nada menos que 20.000 homens foram mobilizados para ajudar a guarnição.

Apesar de ter resistido ao cerco de 1562, a cidade manteve-se em estado de guerra constante com os marroquinos.[12]

Ver também

Referencências

  1. a b Fernando Pessanha: As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar, Universidade do Algarve, Faro, 2012, p.67.
  2. Agostinho de Gavy de Mendonça: História do Cerco de Mazagão, Impresso na Typ. do commercio de Portugal, 1890, p.41.
  3. a b c 1562 – O Triunfo Português no Grande Cerco a Mazagão in Barlavento
  4. a b c J. Semedo de Matos: Cidade Portuguesa de Mazagão: Património Mundial em 2004 in Revista da Armada, December 2004, p.19.
  5. a b c d e Colin, G.S.; Cenival, P. de (1960–2007). "al-D̲j̲adīda". In Bearman, P.; Bianquis, Th.; Bosworth, C.E.; van Donzel, E.; Heinrichs, W.P. (eds.). Encyclopaedia of Islam, Second Edition. Brill. ISBN 9789004161214.
  6. a b Fortaleza de Mazagão, Marrocos, Doukkala-Abda, El Jadida, El Jadida in monumentos.gov.pt
  7. João Gallego, José Joaquim Gomes de Brito: Descripção e roteiro das possessões portuguezas do continente da Africa e da Asia no XVI seculo, Imprensa Nacional, 1894, p. 94.
  8. Gonçalo Feio: p.121.
  9. Ignacio da Costa Quintella: Annaes da Marinha Portugueza, Typographia da Academia Real das Sciencias, 1839, p.495.
  10. Mendonça, 1890, p. 43.
  11. Quintella, 1839, p. 496.
  12. a b c d Comer Plummer: Siege of Mazagan, 1562 at militaryhistoryonline.com
  13. a b Quintella, 1839, p. 497.

Ligações externas

  • Comer Plummer: Siege of Mazagan, 1562 at militaryhistoryonline.com
  • v
  • d
  • e
séc. IX – séc. XI
séc. XII – séc. XIII
séc. XIV
séc. XV
séc. XVI
séc. XVII
séc. XVIII
séc. XIX
séc. XX