Raiz da unidade

Raízes cúbicas da unidade no plano complexo
Raízes quintas da unidade no plano complexo

Em matemática, as raízes n-ésimas da unidade, ou números de de Moivre[1], são todos os números complexos que resultam 1 quando são elevados a n. Raízes da unidade são usadas em muitas áreas da matemática, sendo especialmente importantes para a teoria dos números, para a representação de caráter em teoria dos grupos, e para a transformada discreta de Fourier. Pode-se demonstrar que estão localizados no círculo unitário do plano complexo e que nesse plano formam os vértices de um polígono regular de n lados com um vértice sobre 1.

Uma raiz n-ésima da unidade é chamada de primitiva (ou seja, uma raiz primitiva n-ésima da unidade) quando ela não é também uma raiz m-ésima da unidade para m < n. Por exemplo, i é uma raiz quarta e raiz oitava da unidade, mas é apenas uma raiz quarta primitiva da unidade.

Definição

Diz-se que uma raiz n-ésima da unidade, onde n é um inteiro positivo (n = 1, 2, 3, …), é um número complexo z que satisfaça a equação

z n = 1 {\displaystyle z^{n}=1} ,

que, pelo teorema fundamental da álgebra, possui n {\displaystyle n} raízes no conjunto C {\displaystyle \mathbb {C} } dos números complexos.[2]

Soluções

Uma das soluções sempre será o número 1 {\displaystyle 1} , já que 1 n = 1 {\displaystyle 1^{n}=1} para qualquer n {\displaystyle n} inteiro positivo. As demais soluções podem ser obtidas reescrevendo o número 1 {\displaystyle 1} de forma conveniente através da fórmula de Euler:

e i x = cos ( x ) + i sen ( x ) . {\displaystyle e^{ix}=\cos \left(x\right)+{\text{i}}\,\operatorname {sen} \left(x\right).}

Substituindo-se x = 2 π k {\displaystyle x=2\pi \mathrm {k} } , onde k Z {\displaystyle k\in \mathbb {Z} } obtém-se:

e i ( 2 π k ) = cos ( 2 π k ) + i sen ( 2 π k ) = 1 {\displaystyle e^{{\text{i}}(2\pi \mathrm {k} )}=\cos \left(2\pi \mathrm {k} \right)+{\text{i}}\,\operatorname {sen} \left(2\pi \mathrm {k} \right)=1}

Implicando que o número 1 {\displaystyle 1} pode ser escrito da seguinte forma:

1 = e 2 π i k {\displaystyle 1=e^{2\pi \mathrm {i} k}}

Resolve-se, então, a equação que define as raízes da unidade:

z n = 1 z = 1 1 n = ( e 2 π i k ) 1 n = e 2 π i k n {\displaystyle z^{n}=1\implies z=1^{1 \over n}=(e^{2\pi \mathrm {i} k})^{1 \over n}=e^{2\pi \mathrm {i} k \over n}}

Então z {\displaystyle z} pode ser escrito como:

z = cos ( 2 π k n ) + i sen ( 2 π k n ) {\displaystyle z=\cos \left({2\pi \mathrm {k} \over n}\right)+{\text{i}}\,\operatorname {sen} \left({2\pi \mathrm {k} \over n}\right)} , k Z {\displaystyle k\in \mathbb {Z} }

A princípio, tal expressão aponta para um número infinito de soluções. No entanto, dado a periodicidade das funções seno e cosseno, há mais de um k {\displaystyle k} associado a uma mesma raiz. De fato, há infinitos k {\displaystyle k'} associados a um mesmo valor de z {\displaystyle z} que seja dado por um valor principal k {\displaystyle k} . A relação de congruência entre k {\displaystyle k'} e k {\displaystyle k} é, por análise:

k k ( mod n ) . {\displaystyle k'\equiv k{\pmod {n}}.}

Desse modo, a solução resume-se a n {\displaystyle n} raízes para z {\displaystyle z} , dadas por:

z k + 1 = cos ( 2 π k n ) + i sen ( 2 π k n ) , {\displaystyle z_{k+1}=\cos \left({2\pi \mathrm {k} \over n}\right)+{\text{i}}\,\operatorname {sen} \left({2\pi \mathrm {k} \over n}\right),}
k = 0 , 1 , 2 , . . . , n 1 {\displaystyle k=0,1,2,...,n-1}

Propriedades aritméticas

Soma das raízes

A soma das raízes da unidade é igual a 0 {\displaystyle 0} , n 2 {\displaystyle \forall \,n\geqslant 2} . Uma maneira de provar isso, é utilizando a soma de uma progressão geométrica.

k = 0 n 1 e 2 π i k n {\displaystyle \sum _{k=0}^{n-1}e^{2\pi {\text{i}}k \over n}} = e 2 π i . ( 0 ) n + e 2 π i . ( 1 ) n + + e 2 π i . ( n 1 ) n {\displaystyle =e^{2\pi {\text{i}}.(0) \over n}+e^{2\pi {\text{i}}.(1) \over n}+\cdots +e^{2\pi {\text{i}}.(n-1) \over n}} = e 2 π i ( 0 ) / n 1 e 2 π i ( n ) / n 1 1 e 2 π i / n 1 {\displaystyle =\underbrace {e^{2\pi {\text{i}}\cdot (0)/n}} _{1}\cdot {\cfrac {\overbrace {e^{2\pi {\text{i}}\cdot (n)/n}} ^{1}-1}{e^{2\pi {\text{i}}/n}-1}}} = 0 {\displaystyle =0}

Outra maneira de provar essa propriedade, é considerar as relações de Girard. Observando o polinômio z n + 0. z n 1 1 = 0 {\displaystyle z^{n}+0.z^{n-1}-1=0} , é fácil notar que a soma das raízes é igual a 0 {\displaystyle 0} .

Produto das Raízes

Através das relações de Girard, pode-se deduzir que o produto das raízes é 1 {\displaystyle 1} para n {\displaystyle n} ímpar e 1 {\displaystyle -1} para n {\displaystyle n} par.

Equação Ciclotômica

Ver artigos principais: Equação ciclotômica e Corpo ciclotômico

Teorema de Gauss-Wantzel

Carl Friedrich Gauss demonstrou que o problema de resolver a equação x p = 1 {\displaystyle x^{p}=1} , também denominada ciclotômica, pode ser reduzido a resolver uma série de equações quadráticas, para quando p {\displaystyle p} for um primo de Fermat, isto é, para quando for um primo e puder ser escrito como p = 2 2 n + 1 {\displaystyle p=2^{2^{n}}+1} , onde n N {\displaystyle n\in \mathbb {N} } . Pierre Laurent Wantzel provou posteriormente, em 1836, que tal condição não só é suficiente, mas necessária.[3]

O teorema de Gauss-Wantzel possui um importante valor histórico por promover uma ligação entre análise complexa e geometria euclidiana, visto que implica na especificação de quais polígonos são construtíveis a partir de régua e compasso, problema milenar enfrentado pelos matemáticos desde a Grécia antiga. Nesse contexto, ele prova que o polígono de 17 lados, o heptadecágono, é construtível pelo número de lados ser um primo de Fermat, contrastando com polígonos menores como o heptágono e o eneágono, que não são construtíveis.

Referências

  1. Weisstein, Eric W. «de Moivre Number». MathWorld 
  2. de Araújo, Carlos César. «Raízes da Unidade». Matemática para Gregos & Troianos 
  3. Weisstein, Eric W. «Cyclotomic Equation». MathWorld 

Bibliografia

  • Lang, Serge (2002). Algebra, 3rd revised edition. Nova York: Springer-Verlag. ISBN 0-387-95385-X.


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